O último ano marcou um antes e um depois em nossas vidas. A crise mundial nos obrigou a mudar e nos adaptar para continuar com nosso dia a dia. Ao nível da mão-de-obra, as mudanças têm sido evidentes em muitos setores. Quase nada será igual ou igual por motivos de saúde, higiene ou simplesmente porque descobrimos que os novos modelos de trabalho são mais eficientes e produtivos.
A crise obrigou muitas empresas a enviar seus funcionários de casa para trabalharem à distância. Vários estudos estimam que o trabalho à distância aumentou de 5% para 40% no ano passado no Brasil, um país cuja cultura de trabalho mais presencial e ligada ao modelo tradicional de longas jornadas de trabalho reduziu ao mínimo o número de empregos remotos.
Apenas 6% dos brasileiros possuíam trabalho a distância quando a pandemia atingiu, de acordo com um estudo do CIS (Centro de Pesquisas Sociológicas). Mas muitas empresas já descobriram que o trabalho remoto funciona, a desconfiança inicial se desvaneceu com o andamento dos projetos e, além disso, os empresários confirmaram que a produtividade cresceu e se economizou dinheiro.
Poupança em infraestruturas, instalações, escritórios, energia, fornecimentos e aparelhos electrónicos, viagens, viaturas de empresa, eventos físicos… Algumas análises estimam o montante que se poderia poupar por trabalhador por ano entre 1.000 e 5.000 reais.
A Global Workplace Analytics em parceria com o Beework (beeworkrp.com.br), dedicada à pesquisa e consultoria de funcionários, estima a economia média em imóveis com trabalho remoto em tempo integral em cerca de 9.000 reais por ano por funcionário.
Por outro lado, os trabalhadores também poupam dinheiro e muito tempo nas viagens que podem dedicar mais ao descanso, trabalho ou conciliação, o que tem impacto no aumento da produtividade dos funcionários e no seu nível de satisfação geral. Claro, também melhora a qualidade do ar, reduzindo muitos deslocamentos urbanos.
A posição do governo e dos sindicatos
No entanto, ainda existem muitas empresas que relutam em introduzir ou avançar o trabalho remoto. Com o bloqueio passado já muito distante, várias empresas obrigaram seus funcionários a voltarem aos seus cargos no escritório. Isso apesar das últimas ondas da pandemia e das altas taxas de contágio que sofremos.
As plataformas sindicais têm verificado este retorno ao posto de trabalho físico, o que confirma a resistência que muitos empregadores ainda mantêm em apostar no trabalho remoto. Por isso, em janeiro passado, a meio da terceira vaga, voltaram a pedir a introdução do trabalho remoto para evitar mais infecções.
As reuniões virtuais eram frequentes durante a primeira onda
Por outro lado, as autoridades governamentais têm permanecido em um plano mais discreto evitando se envolver demais neste momento ou confrontar o empresariado, ou seja, se no início da pandemia declararam o trabalho remoto obrigatório, agora se limitaram simplesmente a recomendar trabalho remoto “quando possível”.
Veja: Sala de reunião em Ribeirao Preto
Uma grande maioria de especialistas concorda com a necessidade de promover o trabalho remoto no Brasil para colocá-lo aos níveis dos demais parceiros da comunidade. Em comparação com a média na América do Sul, no último ano o trabalho remoto médio dos assalariados na America do Sul era de 11,6%, enquanto no Brasil mal chegava a 3,6%. Em relação aos autônomos, os sul-americanos que trabalham remotamente chegam a 35,9%. No Brasil, 28% o fazem.
Existem, portanto, vários motivos pelos quais o trabalho remoto não só se expandiu mesmo nas atuais circunstâncias de uma pandemia, mas, entre todos eles, se destacam junto com a cultura face a face do ambiente de trabalho, a adaptação tecnológica escassa ou nula. A necessidade de controle contínuo de quem ocupa cargos de responsabilidade, bem como a necessidade de usar e rentabilizar os imóveis e instalações que as empresas já possuem.
Quanto ao face-a-face, a evolução natural do mundo do trabalho está modificando-o, exceto em alguns setores mais tradicionais. O controle dos funcionários e do trabalho já é gerenciado por outras estratégias e até por novas tecnologias.
E no que diz respeito à rentabilidade e amortização das infraestruturas e instalações de produção ou de trabalho, também se percebem mudanças. Basta pensar no quanto uma empresa poderia ganhar se otimizasse seus espaços de trabalho, ou seja, se pudesse aproveitar e rentabilizar esses escritórios e infraestruturas enquanto seus funcionários trabalham em casa. Esta solução já existe.
No Brasil, o trabalho remoto está abaixo da média sul-americana
Nos últimos anos, um novo modelo foi desenvolvido a partir do aluguel de espaços que as empresas deixam de usar em determinados horários do dia. O objetivo é otimizar instalações, infraestrutura e até mesmo móveis e ferramentas de trabalho que ficam livres durante o trabalho remoto dos usuários regulares. Desta forma, o máximo benefício econômico é obtido das áreas de trabalho.
É um modelo que já existia e nasceu pensando nos modelos de trabalho do futuro, mas a chegada da pandemia deu-lhe um impulso considerável. Consiste no aluguel de espaços por horas ou dias, por meio de plataformas que os colocam à disposição de quem precisar.
É, em suma, uma forma de flexibilizar os recursos físicos da empresa e dos espaços de trabalho e colocá-los à disposição de qualquer trabalhador. O mesmo conceito se aplica a outras realidades mais estabelecidas, como veículos ou casas. Compartilhe e otimize o uso do referido produto.
Dessa forma, as empresas poderiam converter seus imóveis em renda direta, rentabilizando aquele espaço que agora, com o trabalho remoto, é subutilizado e gera despesas. A Fandit, outra startup Brasileira dedicada à gestão de subvenções públicas, é um exemplo.
Segundo o seu CEO, Pedro Robles, “só utilizamos o escritório alugado três vezes em fevereiro, porque o confinamento nos surpreendeu imediatamente”. Agora, eles passaram de dois para sete funcionários e precisam de mais espaço. Robles confirma que “aumentou o interesse nos subsídios públicos para fazer face às despesas derivadas do trabalho remoto.
Ainda há muito a ser feito para alcançar a transição para uma implementação definitiva do trabalho remoto. O confinamento obrigou-nos a vivê-lo como única alternativa e a cada dia surgem novas ferramentas que oferecem infinitas possibilidades e que facilitam às empresas e aos trabalhadores uma realidade de trabalho mais produtiva, prática, flexível e mais bem integrada na vida dos trabalhadores.
Em suma, o futuro do trabalho passa pela otimização de recursos humanos, econômicos e físicos que aumentem os benefícios das empresas e dos trabalhadores. Ao alinhar trabalhadores, empresas e sistemas de trabalho, podemos atingir a meta do Talento 4.0.